A linguagem molda a realidade. As palavras que escolhemos e a maneira como as usamos têm o poder de influenciar percepções, atitudes e comportamentos. No contexto das pessoas com deficiência, a linguagem não é apenas um meio de comunicação, mas também um reflexo das atitudes sociais que podem perpetuar o preconceito e a discriminação.
Historicamente, termos pejorativos e desatualizados foram comumente usados para se referir a pessoas com deficiência, contribuindo para a estigmatização e marginalização. Embora haja um movimento crescente em direção a uma linguagem mais inclusiva e respeitosa, ainda existem barreiras linguísticas que reforçam estereótipos negativos e a exclusão social.
A escolha consciente de palavras é fundamental. Termos como “deficiente” ou “inválido” foram substituídos por “pessoa com deficiência” ou “pessoa com mobilidade reduzida”, enfatizando a pessoa antes de sua condição. Essa abordagem centrada na pessoa reconhece a individualidade e a dignidade, evitando reduzir alguém a sua deficiência.
Além disso, a linguagem inclusiva vai além da substituição de palavras; ela envolve uma mudança na forma como falamos sobre deficiência. Isso inclui evitar suposições sobre as capacidades de uma pessoa com base em sua condição e reconhecer as contribuições que todas as pessoas, independentemente de suas habilidades, trazem para a sociedade.
A linguagem é uma barreira
“As pessoas com deficiência têm diversas barreiras e uma delas é a da comunicação. E a linguagem capacitista evidencia uma cultura que ainda não traz a visão de que a pessoa com deficiência é uma cidadã como qualquer outra, sujeita a obrigações e direitos. A linguagem capacitista é aquela que, de alguma forma, diminui essa condição do cidadão”, refletiu em entrevista para a Agência Brasil, Marcos da Costa, o secretário dos Direitos das Pessoas com Deficiência do Estado de São Paulo, sobre como a linguagem se torna uma barreira para pessoas com deficiência. “Essa é uma discussão muito séria e muito importante porque demonstra que a forma de se dirigir a uma pessoa com deficiência é a imagem que se constrói ou não de cidadania”.
Expressões capacitistas
No debate sobre a linguagem e o preconceito contra pessoas com deficiência, é crucial abordar o uso de expressões capacitistas. Essas expressões, muitas vezes enraizadas na linguagem cotidiana, podem ter um impacto negativo significativo, reforçando estereótipos e perpetuando a discriminação.
Expressões capacitistas são aquelas que desvalorizam pessoas com deficiência, seja de forma direta ou indireta. Frases como “cego de raiva” ou “surdo a argumentos”, por exemplo, usam deficiências como metáforas para características negativas, o que pode reforçar a ideia de que ter uma deficiência é algo indesejável ou inferior.
O papel das Mídias e Educação
A mídia desempenha um papel crucial na modelagem da linguagem pública. Jornalistas e comunicadores têm a responsabilidade de usar uma linguagem que respeite a diversidade e promova a igualdade. Isso significa não apenas evitar termos ofensivos, mas também desafiar narrativas que retratam pessoas com deficiência como objetos de pena ou super-heróis por simplesmente viverem suas vidas.
A educação é outro pilar essencial na transformação da linguagem e, por extensão, das atitudes. Programas de sensibilização e treinamentos podem ajudar a desmistificar a deficiência e promover uma compreensão mais profunda das questões de acessibilidade e inclusão.
Em última análise, a linguagem inclusiva e respeitosa é um passo vital para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Ao refletir sobre as palavras que usamos, podemos começar a desfazer os preconceitos enraizados e abrir caminho para a aceitação e o respeito mútuo. É uma jornada contínua, mas cada passo nessa direção é um progresso em direção a um mundo onde a deficiência é vista não como uma limitação, mas como uma das muitas facetas da rica tapeçaria humana.