Mila Guedes, mestranda da Universidade de São Paulo (USP) e ativista pelos direitos das pessoas com deficiência, sonha com um sistema universitário brasileiro inclusivo e acessível, inspirado no modelo norte-americano da Universidade de Maryland, em Baltimore County. Durante o primeiro semestre deste ano, Mila teve a oportunidade de estudar em Maryland através de uma bolsa de intercâmbio, onde conheceu o Student Disability Service, um centro de serviços que oferece uma ampla gama de tecnologias assistivas e acomodações personalizadas para estudantes com deficiência.
De volta ao Brasil, Mila continua sua luta pela inclusão. Ela é coordenadora do curso de formação em Liderança e Empoderamento Feminino para Mulheres com Deficiência do Programa Todas in-Rede da Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Sua trajetória de ativismo começou em 2015, focando especialmente nas questões que afetam mulheres com deficiência. Além disso, Mila já colaborou em projetos internacionais sobre gênero, deficiência e violência com a organização Mobility International USA (MIUSA).
Mila destaca que, apesar da Lei Brasileira de Inclusão, vigente desde 2015, as universidades do país ainda não estão preparadas para receber adequadamente pessoas com deficiência. Segundo dados do Inep, a presença de estudantes com deficiência no ensino superior passou de 0,4% em 2012 para 0,8% em 2022. Entretanto, essa melhoria se deve mais aos esforços individuais e condições socioeconômicas dos próprios estudantes do que a políticas institucionais efetivas.
A recente instituição do Censo da pós-graduação stricto sensu pela Capes, em abril deste ano, busca coletar dados demográficos e informações relacionadas às condições socioeconômicas e de educação especial, o que pode ajudar a direcionar políticas públicas mais eficazes. Contudo, Mila ressalta que essas iniciativas ainda são insuficientes.
Outro exemplo de superação e luta pela inclusão é o professor Carlos Eduardo Oliveira, conhecido como Edu O., da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Com mais de 25 anos de carreira artística e acadêmica, Edu O. é o primeiro professor cadeirante de dança numa universidade brasileira. Ele enfatiza que, além das barreiras físicas, como falta de rampas e elevadores, há uma carência de pesquisa e discussões sobre deficiência nas instituições de ensino superior.
Para Mila e Edu O., a inclusão vai além da infraestrutura física; trata-se de mudar mentalidades e práticas pedagógicas. Eles defendem uma educação baseada na empatia e na compreensão das necessidades individuais dos alunos. A experiência de Mila na Universidade de Maryland mostrou que é possível criar um ambiente universitário inclusivo sem grandes custos adicionais, desde que haja vontade política e compromisso institucional.
Nos Estados Unidos, regulamentações como a Individuals with Disabilities Education Act (IDEA) e a Americans with Disabilities Act (ADA) garantem a acessibilidade e a igualdade de oportunidades na educação. Sam Chandrashekar, especialista em acessibilidade e líder global da D2L Corporation, sugere que as universidades podem adotar medidas inclusivas em fases, focando em mentalidade inclusiva, tecnologia compatível, conteúdo acessível, pedagogia inclusiva, conformidade regulatória, governança sustentada e uma comunidade colaborativa.
De acordo com a Capes, em 2022, apenas 1.263 dos 142.697 estudantes matriculados em cursos de mestrado eram pessoas com deficiência, e somente 388 concluíram seus cursos. Esses números revelam a necessidade de dados mais precisos e de políticas públicas efetivas para apoiar esses estudantes.
A luta pela inclusão nas universidades brasileiras é urgente e fundamental para garantir que pessoas com deficiência tenham acesso pleno e igualitário à educação superior. Mila Guedes e Edu O. são exemplos inspiradores de como a determinação e o ativismo podem impulsionar mudanças significativas, mas é necessário um esforço coletivo para transformar essas visões em realidade.
Fonte: Câmara Inclusão