Em um momento histórico para a ciência e a tecnologia, a Copa do Mundo da FIFA de 2014 no Brasil foi palco de um evento que transcendeu o esporte. Na cerimônia de abertura, Juliano Pinto, um jovem brasileiro paraplégico de 29 anos, realizou o chute inaugural utilizando um exoesqueleto robótico. Este dispositivo, desenvolvido por uma equipe internacional liderada pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, permitiu que Juliano, que tem paraplegia completa de tronco inferior e membros inferiores, chutasse a bola com um comando originado de seu próprio cérebro.
O projeto, denominado “Andar de Novo”, é um marco na interseção entre neurociência e engenharia robótica, demonstrando o potencial da tecnologia assistiva para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência. O exoesqueleto é uma estrutura metálica que se ajusta ao corpo, reagindo a sinais neurais e permitindo movimentos que antes eram impossíveis para pessoas com lesões severas na medula espinhal.
A demonstração foi breve, mas significativa. Apesar de a transmissão ao vivo ter dedicado apenas alguns segundos ao feito, o impacto foi profundo. Muitos espectadores, especialmente aqueles com deficiência, viram naquela ação uma mensagem de esperança e um vislumbre do futuro. No entanto, houve críticas quanto à brevidade da exibição, com muitos expressando desapontamento por não terem visto o processo completo de Juliano levantando da cadeira de rodas e chutando a bola.
A equipe de Nicolelis enfrentou desafios significativos, não apenas no desenvolvimento do exoesqueleto, mas também na apresentação de sua pesquisa em um evento global com limitações de tempo. A FIFA disponibilizou apenas 29 segundos para a demonstração, um período extremamente curto para exibir um avanço tecnológico tão complexo. Apesar disso, o chute simbólico foi um sucesso, e Nicolelis expressou sua satisfação nas redes sociais, declarando “Nós conseguimos”.
O financiamento do projeto veio de várias fontes, incluindo a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil), que investiu R$ 33 milhões ao longo de aproximadamente dez anos. O presidente da Finep na época, Glauco Arbix, expressou orgulho pelo investimento, destacando o evento como um “gol da ciência brasileira”.
O chute de Juliano Pinto não foi apenas um marco para a ciência e tecnologia, mas também um símbolo de inclusão e acessibilidade. Ele demonstrou que, com dedicação e inovação, barreiras podem ser superadas e novos caminhos podem ser abertos para pessoas com deficiência em todo o mundo. O legado desse momento vai além do campo de futebol, inspirando pesquisas e desenvolvimentos futuros que podem um dia transformar a realidade de muitos.
Fonte: Forbes