Avatar: A série vai falhar na representatividade ?

imagem: google images

A animação da Nickelodeon, “Avatar: A Lenda de Aang”, obteve imenso sucesso, conquistando uma legião de fãs desde seu lançamento em 2005. Seu êxito garantiria que a série se transformasse em uma franquia, com uma continuação direta, a “A Lenda de Korra,” e uma terceira série animada já confirmada.

Dado o enorme sucesso, era apenas uma questão de tempo até que Avatar transcendesse as animações e explorasse novos formatos. Assim, em 2010, com “O Último Mestre do Ar”, surgiu a primeira tentativa de transportar Aang para o mundo dos live actions. No entanto, o filme não agradou tanto aos fãs e não alcançou tanto sucesso, apesar da bilheteria consideravelmente positiva.

Contudo, o filme de 2010 não foi a última vez que vimos Aang em carne e osso. Confirmada em 2018 pela Netflix, e com lançamento para 22 de fevereiro de 2024, teremos uma nova encarnação, na forma de uma série live action de “Avatar: A Lenda de Aang.” Essa série, mesmo antes de seu lançamento, já enfrenta polêmicas sobre representatividade devido ao casting.

A representatividade em Avatar

A representatividade é um dos pontos fortes de Avatar.

A representatividade em Avatar é um de seus pontos fortes. Apesar de se passar em um mundo de Alta Fantasia, totalmente inventado e sem relação direta com nosso mundo, os povos e culturas na animação são diretamente inspirados em povos e culturas reais, especialmente asiáticas.

A animação não economiza na apresentação de personagens não apenas étnica e culturalmente diversos. Há também uma boa representatividade de pessoas com deficiência ao longo dos episódios, incluindo uma deficiente visual entre seus personagens principais, a dobradora de terra Toph. Mas, entre o elenco de personagens de apoio e menos constante, há um caso ainda mais especial e interessante.

Apesar de Toph ser uma grande personagem, suas habilidades “mágicas” de dobrador lhe conferem habilidades sobre-humanas, o que acaba minimizando certas questões sobre deficiência visual. O mesmo não ocorre com Teo, um garoto paraplégico cuja condição é sugerida ter sido causada por um desastre natural. No entanto, sua condição de deficiente físico não o limita de forma alguma.

Teo é um personagem forte, inteligente e independente, apesar de aparecer relativamente pouco ao longo dos episódios, sendo muito marcante para os fãs. Sendo um personagem tão amado, foi incluído na nova série live action, mas surge um problema: Teo será interpretado por Lucian-River Chauhan, um ator não PcD, o que pode conferir características de “cripface” à produção.

Cripface na nova série?

O que é cripface? O termo surgiu para denominar a prática onde atores sem deficiência interpretam personagens com algum tipo de deficiência, seja ela qual for. A prática é mal vista pela comunidade PcD, pois está diretamente ligada ao capacitismo. Escolher apenas atores sem deficiência para papéis de deficientes implica, direta ou indiretamente, que a indústria vê pessoas com deficiência como menos capazes.

O cripface é especialmente problemático por, em geral, reforçar diversos estereótipos sobre pessoas com deficiências diversas. Assim, as atuações feitas por pessoas sem deficiência podem parecer jocosas, estereotipadas e cheias de reforços negativos na visão sobre as pessoas da comunidade das pessoas com deficiência.

Infelizmente, o cripface é uma prática relativamente comum nos poucos filmes com personagens deficiente no universo audiovisual, que representam pouco menos de 3% das produções feitas. Muitos filmes e séries de sucesso são conhecidos por terem realizado essa prática, por exemplo, o musical Glee tinha o personagem Artie, garoto paraplégico interpretado por Kevin McHale. E os exemplos são muitos.

Kevin McHale como Artie em Glee

Cripface em avatar?

Apesar de Lucian-River Chauhan estar despontando como um bom ator, a escolha para que ele interprete Teo é controversa. É muito pouco provável que não haja um ator que seja de fato paraplégico e com a etnia mais adequada que pudesse viver o personagem na nova série. A escolha feita pela produção da série pode ser compreendida como contrária ao próprio cerne da animação que fez um bom trabalho quanto à representatividade.

Inclusive, haveria uma gama de outros personagens que poderiam ser encarnados por Chauhan. Agora que ele viverá Teo, devemos esperar que, ao menos, a série faça o máximo para que o personagem seja bem trabalhado e mantenha suas características e pontos fortes como vistos na animação.

Lucian-River Chauhan viverá Teo na nova série da Netflix

A controvérsia em torno do elenco destaca a importância da representatividade autêntica nas produções audiovisuais, especialmente ao adaptar obras queridas como “Avatar: A Lenda de Aang.” Resta à série provar que, mesmo diante das polêmicas, pode manter a integridade e impacto que tornaram a animação original tão amada pelos fãs.

Texto: Fernando Paixão Rosa

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