Madame Teia: Uma oportunidade perdida

Madame Teia (Image: divulgação)

Seguindo a tendência de filmes, geralmente não muito bons, baseados em personagens secundários e vilões do universo do Homem-Aranha produzidos pela Columbia Pictures/Sony Pictures, Madame Teia (Madame Web) apresenta a qualidade duvidosa dessas produções. No entanto, além do enredo fraco, como é comum, os efeitos visuais e a atuação não se destacam, e o filme peca ao afastar a personagem Cassandra Webb de algumas de suas características mais marcantes, perdendo a oportunidade de conferir grande força e representatividade a ela nas telas.

Quem é Cassandra Webb?

Cassandra nasceu no Oregon, mais especificamente em Salem, já com deficiência visual e miastenia grave, que, em resumo, é uma doença crônica muscular que causa fraqueza nos músculos voluntários do indivíduo. No caso de Cassandra, a doença acaba levando-a a ter movimentação reduzida, necessitando de uma cadeira de rodas e outras necessidades específicas. No entanto, Cassandra, ou melhor, a Madame Teia, apesar de sua visão e mobilidade prejudicadas, tornou-se uma personagem essencial em diversas aventuras do Homem-Aranha, mostrando que, apesar de suas deficiências, é uma personagem forte e imponente.

O filme erra onde deveria reafirmar (contém spoilers)

O filme “Madame Teia”, lançado recentemente, propõe revitalizar e trazer a personagem Cassandra para os dias atuais, tornando-a mais jovem, ao contrário da representação idosa nos quadrinhos e desenhos animados. A ideia de explorar a origem da personagem com uma Cassandra Webb mais jovem pode parecer promissora, mas na prática, falha logo de início.

A produção elimina qualquer conexão direta com as condições originais de deficiência da personagem principal, deixando apenas uma vaga referência a uma doença hereditária em sua família. Isso levou sua mãe a procurar uma aranha com habilidades de cura, que, por sua vez, de alguma forma, conduz à aventura de Cassandra no filme.

Ao desfecho da trama, a personagem adota uma presença mais próxima àquela dos quadrinhos, tornando-se uma mulher cega e paraplégica. No entanto, ambas as condições resultam do confronto final contra o vilão do filme, sem relevância na jornada ou desenvolvimento da personagem. Infelizmente, a produção perdeu a oportunidade de apresentar uma jovem Cassandra lidando com sua condição de deficiente diante dos desafios de sua jornada como super-heroína. Isso provavelmente teria tornado o filme mais original e relevante.

A dificuldade da indústria do cinema em representar pessoas com deficiência

A representatividade das pessoas com deficiência no cinema e no audiovisual em geral sempre enfrentou e continua enfrentando diversas dificuldades. Há pouca presença de atores com deficiência nas produções, mesmo quando há personagens deficientes, levando atores não deficientes a desempenhar esses papéis. Isso se configura como uma escolha discriminatória por parte das produções dessas obras, uma vez que há, sim, muitos atores com deficiências diversas.

A escassa ou quase inexistente presença de personagens com deficiência nas obras reflete todo o processo de formação cultural dos indivíduos. Nossa sociedade passou por um longo processo de invisibilização de diversos grupos, incluindo o das pessoas com deficiência. Dessa forma, muitos diretores, roteiristas, entre outros, tiveram pouco ou nenhum contato com a diversidade, e quando tiveram, muitas vezes foram ensinados a ignorar essas pessoas. Portanto, é bastante evidente que em suas obras, acabam evitando ou simplesmente não se atentando à diversidade.

Embora haja um movimento crescente em prol da diversidade e inclusão, a falta de representação autêntica e sensível das pessoas com deficiência persiste. Muitos filmes e séries ainda recorrem a estereótipos e narrativas simplificadas, deixando de explorar a complexidade das experiências desses indivíduos.

A única forma eficiente de mitigar essa situação, afinal, é dar mais visibilidade às pessoas com deficiência em todos os setores da sociedade. Dessa maneira, a convivência, o aprendizado e a conscientização levarão a uma representação sem estereótipos, uma representação mais digna para todos. Mas infelizmente, Madame Teia falhou onde mais deveria ter mirado.

Texto: Fernando Paixão Rosa

Compartilhar
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Notícias Relacionadas

Redes sociais